Suprema é vedado de participar da discussão acerca da retomada do ano letivo de Maracanaú

É com grande preocupação que o Sindicato dos Profissionais em Educação de Maracanaú (Suprema) recebe a notícia de reunião virtual com o grupo gestor das escolas públicas municipais, chamada pela Secretaria Municipal de Educação, para esta segunda e terça-feira (04 e 05 de maio). Serão quatro horários, nos dois dias, de modo a contemplar todas as escolas da rede.

O comunicado fala da preocupação com a retomada do ano letivo – fato encarado por este sindicato como motivação secundária durante a pandemia –, e cita parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE), de 28 de abril, que lança diretrizes para orientação das escolas sobre as práticas que devem ser adotadas durante a crise sanitária, deixando a cargo de cada sistema de ensino a responsabilidade pela reorganização dos calendários escolares.

O Prefeito de Maracanaú já havia estabelecido, por meio do Decreto nº 3.965, de 06 de abril de 2020, a reorganização do calendário escolar local para após o período de “isolamento social” em vigor no Estado do Ceará, e que os dias letivos não realizados por ocasião da pandemia seriam recuperados mediante atividades domiciliares, além da antecipação das férias – medida cruel e desumana –, e tornando apta à SME, em ato, a regulamentar a recuperação de aulas através de atividades domiciliares.

O objetivo, segundo o comunicado, é “obter subsídios para a elaboração desse Ato, com a finalidade de permitir que seja garantido um fluxo de atividades e o direito de aprendizagem às crianças e estudantes, enquanto durar a situação de emergência, na reunião virtual debateremos assuntos relacionados às condições, de cada escola, de realização das atividades à distância, sobre como as mesmas poderão ser consideradas como horas letivas”.

O Parecer do CNE traz orientações e sugestões para todas as etapas de ensino, da educação infantil à superior, mas deixa a reorganização dos calendários escolares sob a responsabilidade dos sistemas de ensino. O parecer foi elaborado com a colaboração do Ministério da Educação (MEC) e listou uma série de atividades não presenciais que podem ser utilizadas pelas redes de ensino durante a pandemia. Meios digitais, videoaulas, plataformas virtuais, redes sociais, programas de televisão ou rádio, material didático impresso e entregue aos pais ou responsáveis são algumas das alternativas sugeridas.

Entretanto, o que o Secretário de Educação e o Prefeito de Maracanaú, bem como o quadro técnico, não observam é que como será montada tal estratégia se até hoje a prefeitura não conseguiu implantar de forma adequada os dários on line, porque as escolas não contam com suporte técnico, como internet ou computadores, por exemplo. Se a prefeitura de ente federativo, que conta com recursos, esbarra no limitante para a implantação de ferramenta capazes, imaginem a situação das crianças que frequentam as escolas públicas de Maracanaú. Tais medidas aumentarão a desigualdade de aprendizagem em vez de suprir a carência do ensino. Muitas dessas crianças vão para a escola porque sabem que comerão, pelo menos, uma vez por dia. Será mesmo que contarão com internet, televisão, computador onde poderão assistir vídeoaulas?

Segundo Janaina Santana, vice-presidenta do Suprema, é preciso reflexão baseada também na solidariedade com toda a comunidade escolar. “Temos que refletir então, urgentemente, onde for possível, sobre os métodos, novas tecnologias e suporte. Neste momento podemos ter do Sistema de Educação de Maracanaú para levar nosso conhecimento aos nossos alunos, e pelo menos tentar descobrir como faremos já que não há uma plataforma disponível (SGE) para isso e as condições socioeconômicas de uma boa parte de nossa clientela não permite essa acessibilidade. Muitos professores também não têm equipamentos para produzir vídeoaulas, alguns não têm em suas casas computadores, notebooks e não sabem lidar com essas ferramentas disponíveis e atuais como o Google Classroom, por exemplo, e precisariam de suporte para aprender. A realidade de cada escola e de seu quadro deve ser considerada para ações efetivas ou será mais um município ministrando aulas fakes, com aprendizado fake, para nossos alunos que são reais e precisam aprender de verdade”, declara.

Diante do exposto, o Suprema reitera e exige ser colocado no meio da discussão entre gestores e SME para pensar em soluções eficientes para o sistema de ensino de Maracanaú. “Somos nós, os professores, que estamos em sala de aula que conhecemos a realidade destes alunos, junto aos coordenadores pedagógicos e dos gestores. Não dá para apenas um grupo decidir tudo. O futuro de toda a comunidade escolar está em jogo”, aponta Joana Ferreira, presidenta do Suprema.

Desta forma, o sindicato propõe um diálogo mais aprofundado da situação e que a SME não tome nenhuma decisão sem que cada grupo escolar tenha tempo hábil para fazer seu debate, tendo em vista que cada comunidade escolar tem sua realidade e suas peculiaridades. Que se leve em consideração a sala de aula dos professores, em tamanho e quantidade de alunos/materiais didáticos suficientes, o nível socioeconômico dessa clientela (acesso a computador e celular, bem como espaço para estudo e comida na mesa) e a frequência do aluno. Registrar também como era feito o acompanhamento familiar nas atividades, porque é evidente, se não há frequência e acompanhamento das aulas presencialmente, imaginar que remotamente será diferente é querer enganar os atores educacionais envolvidos.

O sindicato recomenda a prática de atividades domiciliares de acordo com a realidade escolar, os materiais didáticos disponíveis e o uso das redes sociais, de acordo com o nível de idade e acessibilidade de seus alunos.

O Suprema também colheu algumas sugestões via grupos de WhatsApp de professores. Para a educação infantil e séries iniciais, um roteiro de estudo semanal/quinzenal/mensal orientando uma rotina de estudos para a criança de acordo com os materiais disponíveis que ela possa ter em casa (músicas como acolhida, contação de histórias, livros didáticos e livros de leitura) e que fosse entregue presencialmente. Além da preparação de estudos, um bloco de atividades xerocadas poderia ser entregue a quem não têm materiais, ou os livros didáticos ainda não entregues, na ocasião do recebimento pelos pais dos kits alimentares, e assim chegariam a todas as casas.

Uma sugestão importante foi em relação às crianças com necessidades especiais que poderiam ser atendidas pelas professoras do AEE com atividades e outras situações de colaboração. Já os professores do LIEM poderiam dar auxílio aos professores com dificuldade, dar sugestões de aplicativos, sites com propostas interessantes e sequências didáticas.  Com os adolescentes a metodologia pode ser diferente, mas sempre preservando a interação, a ligação emotiva do aluno com a escola, com os educadores, os conteúdos e a situação social-familiar pelo qual está passando. Mas tudo isso é considerando que todas as famílias dispões de recursos técnicos para participarem da nova modalidade de ensino.

Enquanto representante dos profissionais em Educação, o Suprema acredita ser muito cedo para discutir a retomada do calendário escolar, mas acredita que cada profissional do ensino está disposto a colaborar de forma efetiva para fornecer o melhor à sua turma de alunos, neste momento, mesmo distantes. Ao final desse ano letivo não queremos constatar que todos os esforços envidados para conter o prejuízo na aprendizagem da rede de Maracanaú foram em vão. A defasagem no aprendizado se dá em nível mundial e acarretará danos nas etapas de estudo seguintes e mais desigualdade social.

Este sindicato acompanha algumas experiências de municípios com aulas em formato remoto no ensino fundamental, e ressalta, que não substituem a presença do professor que ensina, aprende junto, medeia e avalia seus alunos na escola. É bom que se destaque o quão rica é a rotina da interação aluno-professor, aluno-aluno, família-aluno- escola, mas que foi totalmente quebrada pelo novo coronavírus e o seu combate deveria ser a maior preocupação neste momento. A criança em idade escolar está em formação e precisa de contato direto com adultos e outras crianças para se desenvolver de forma sadia.

Desvantagens do ensino remoto para as crianças

O site Educa Mais Brasil destaca três pontos de desvantagem como cruciais para o aprendizado infantil:

  1. Distrações – Na educação à distância o aluno não possui o professor para controlar o ambiente. Dessa forma, o aluno precisa lidar com as distrações de forma individual no ambiente doméstico;
  2. Exige mais organização e planejamento do estudante – O sucesso do aprendizado depende da organização e planejamento do estudante em definir e cumprir os horários e uma rotina de estudo bem elaborada;
  3. Autonomia – Apesar de ser um ganho para a vida estudantil, a autonomia pode ser um desafio para muitos estudantes que precisa buscar outras fontes de conhecimento para além do professor em sala de aula. O aluno tem papel ativo e participativo em seu processo de aprendizado.

Além dessas questões para refletir, temos que levar em consideração cada aluno, idade, bem como sua situação familiar nesse acompanhamento pedagógico domiciliar e virtual. Muitas vezes, a escola é a única via de educação da criança, tendo em vista que em casos de alfabetização inicial, a própria família carece de alfabetização e letramento para contribuir. Então para essas crianças em processo de aquisição de leitura e escrita, o desafio será imenso, visto que a defasagem pode ser maior em virtude do tempo que ficaram sem aulas.

Acolher esses alunos, nesse momento é essencial. Dedicar exaustivamente momentos para refletir e praticar sobre a manutenção da saúde e higiene, bem como a alimentação saudável e o cuidado com o adoecimento psicológico, sejam através de textos, vídeos, músicas e outras manifestações artísticas, também sobre valores criados ou resgatados e que deverão ser cultivados na quarentena e pós-pandemia como resiliência, solidariedade, união da família e espiritualidade. Sabemos que cada um deles vai vivenciar esse período de uma maneira: uns de forma menos dolorosa, com comida na mesa, contas pagas e família reunida, outros com a fome e a miséria gritando em suas casas, o desemprego, a violência e as contas chegando. Ademais os casos de doentes e/ou os óbitos nas famílias, para todas as classes sociais, afetará a todos de uma forma mais profunda.

Sabedoria e afetividade devem ser as palavras de ordem do momento. Ajudar o próximo deve estar acima de qualquer calendário letivo. Os professores são os mestres dos alunos em sala de aula, são as pessoas que orientam seu futuro, mas o suporte tecnológico a essa nova adaptação ao trabalho presencial para os mestres e alunos é imprescindível agora. Toda humanidade sabe das mudanças que estão em curso durante esta crise, mas é preciso estar aberto às mudanças que virão. As aulas não presenciais serão uma realidade para adultos, para crianças é preciso de amadurecimento considerando todos os motivos citados acima.

Portanto, é de extrema importância que todos os atores da comunidade escolar, envolvidos ou não no atual processo, exijam que da SME e da Prefeitura de Maracanaú, que a discussão seja aprofundada sobre a execução das aulas remotas. Opiniões e sugestões de acordo com a vivência escolar, na elaboração dessas diretrizes que serão implementadas pela SME, por escola, devem ser consideradas pelo poder executivo. Que fique compreendido que para ter efetividade e sucesso, a construção de um plano de ação deverá ser feito democraticamente e não imposto. Afinal, na ponta, quem deverá executar?