
Evento reúne educadores e ativistas para discutir os desafios de uma educação antirracista nas escolas de Maracanaú
Na noite de ontem, 13 de maio, data simbólica marcada pela abolição formal da escravatura no Brasil, o Sindicato das e dos Profissionais em Educação de Maracanaú (Suprema) foi palco do seminário “Desafios para a Construção de uma Educação Antirracista no Chão da Escola”, que marcou o lançamento do Coletivo de Promoção da Igualdade Racial do Suprema. Reunindo educadoras(es) e ativistas, o encontro propôs reflexões profundas sobre o papel da escola na reparação histórica e no enfrentamento do racismo estrutural.
A mesa do seminário foi composta por educadores e ativistas com trajetória marcante na luta pela igualdade racial, e a mediação ficou a cargo de Daniel Bento, Secretário de Comunicação do Suprema. A primeira fala da noite foi de Cícera Barbosa, Professora de História da rede pública do Estado e Mestra em História Social pela UFC, que trouxe à tona a invisibilidade e a solidão vivida por mulheres negras, especialmente aquelas que ocupam os espaços da ancestralidade cearense. “É preciso reivindicar o lugar que sempre foi nosso e que foi historicamente apagado”, afirmou Cícera, em uma intervenção marcada pela emoção e firmeza.
Na sequência, Gabriela Rebouças, Dra em Sociologia, educadora e pesquisadora com ênfase em questões raciais abordou a ideia de empreendedorismo sob uma perspectiva crítica, lembrando que mulheres negras sempre empreenderam como estratégia de sobrevivência. “Hoje se fala em empreendedorismo como algo novo, mas nossas avós já faziam isso para não morrer de fome. Isso não é escolha, é resistência”, destacou.
Sérgio Murilo, Pedagogo e Historiador e Especialista em Ensino de História da África e Cultura Afro-Brasileira pela UVA, por sua vez, resgatou a força da ancestralidade de Maracanaú, saudando suas raízes e compartilhando a experiência de uma importante iniciativa de formação continuada para docentes no município, que durou 12 anos e foi desenvolvida ao lado das educadoras Nalva Costa e Nivia Marques (presidenta do Suprema). Ele destacou o poder transformador da educação comprometida com a equidade racial.
Já Nalva Costa, Professora de História da rede pública de Maracanaú e Ativista Negra, reforçou a urgência de levar a educação antirracista para dentro das escolas, compartilhando suas práticas pedagógicas e sua luta diária por uma educação que reconheça e valorize a história e a cultura negra. “Educar para a reparação é um ato político e necessário”, afirmou.
Encerrando o seminário, Vilani Oliveira fez um tocante paralelo entre o mundo do trabalho e o dia 14 de maio, data que simboliza o “dia seguinte” da abolição, evocando a música de Lazzo Matumbi para lembrar que a liberdade formal não significou inclusão social ou justiça. “Se construir é difícil. Desconstruir é muito mais, porque foram quase 400 anos de escravização”, destacou.
O lançamento do Coletivo de Promoção da Igualdade Racial do Sindicato Suprema representa um marco na institucionalização da luta antirracista dentro do espaço sindical e educacional. A iniciativa reafirma o compromisso do sindicato com ações contínuas de enfrentamento ao racismo e valorização das identidades negras. Para Nívia Marques, presidenta do Suprema, o momento é simbólico e necessário: “Estamos construindo um caminho coletivo que reconhece nossas histórias, nossos saberes e nossas lutas. É um passo fundamental para que o sindicato também seja um espaço de reparação e transformação”, afirmou.