Uma realidade silenciada por anos dentro dos espaços escolares de Maracanaú começa, enfim, a ganhar visibilidade. A recente pesquisa realizada pelo Suprema em parceria com a Assessoria em Saúde Mental Lugar do Sentir, revela dados preocupantes sobre a prevalência de assédio moral e sexual vivenciada por profissionais da educação no município. O levantamento envolveu 22 escolas, com 163 participantes, e expôs um quadro marcado por violações constantes, sofrimento psíquico e ausência de suporte institucional.
Violência cotidiana e normalizada
Os dados mostram que mulheres foram a maioria das respondentes (119 do total, contra 34 homens), refletindo o perfil mais exposto à violência de gênero dentro das unidades escolares. Em relação ao vínculo profissional, 89 são concursados(as) e 45 temporários(as) — o que revela um número significativo de profissionais em situação de maior vulnerabilidade contratual.
A pesquisa aponta que um número expressivo de educadores(as) afirmou já ter sofrido assédio moral, o tipo de violência mais recorrente no ambiente escolar. As formas mais relatadas foram:
Críticas exageradas/injustas: 68 casos
Supervisão excessiva: 60
Tarefas humilhantes ou inferiores à competência: 20 e 25 casos
Trabalhos urgentes sem necessidade real: 39
Recebimento de instruções confusas: 61
Isolamento (não falavam com você): 51
Exclusão deliberada (mudança de setor para isolamento): 14
Indução ou pressão para pedir demissão: 30 e 7 casos respectivamente
Retirada de instrumentos de trabalho: 46
Ameaças verbais e telefonemas intimidatórios: 20 e 17 casos
Ridicularização pública: 28
Fizeram circular calúnias/maldades: 32
Além disso, 44 pessoas relataram não ter recebido informações importantes para o desempenho de suas funções, e 43 afirmaram ter sido humilhadas diretamente. O silêncio, o isolamento e a banalização da violência compõem uma cultura institucional do desprezo.
Assédio interseccional e sexual: múltiplas formas de violência
O levantamento também escancara as intersecções de opressão que ampliam o sofrimento de profissionais vulnerabilizados. Foram identificados casos relacionados a:
Misoginia
Racismo
LGBT+fobia
Intolerância religiosa
Psicofobia (exposição de diagnósticos de saúde mental, ridicularização por sofrimento psíquico)
Em relação ao assédio sexual, foram descritas situações de:
Importunação e convites inapropriados para sair ou viajar
Ameaças de demissão caso denunciassem os abusos
Propostas de aumento salarial, presentes ou privilégios em troca de sexo
Essas práticas evidenciam a utilização de poder hierárquico e instabilidade contratual como formas de coerção, silenciamento e manipulação do corpo e da dignidade profissional.
O silêncio como política institucional
Um dos aspectos mais alarmantes diz respeito ao tempo prolongado em que os casos de assédio se mantêm sem resposta. Muitos relatos descrevem episódios que se arrastaram por meses ou até anos, sem que houvesse qualquer rede institucional de apoio ou encaminhamento ético e responsável. O medo de represálias, a cultura do medo e a desconfiança nos canais internos fazem com que a maior parte das vítimas permaneça calada — muitas vezes, até adoecer.
A pesquisa reforça que essa inércia não é acidental: a omissão institucional constitui, na prática, uma política de silenciamento, que reforça a impunidade e esgarça os vínculos de pertencimento dentro das escolas.
Saúde mental e riscos psicossociais
A pesquisa também identificou os efeitos diretos do assédio na saúde psíquica dos(as) profissionais. Entre os sintomas mais frequentes estão:
Ansiedade, apatia, depressão, insegurança e perda de memória
Dificuldade de concentração, insônia, medo constante e sensação de inutilidade
Esses danos estão diretamente relacionados aos riscos psicossociais presentes no ambiente de trabalho, como:
Altas demandas e pressão por metas inatingíveis;
Baixo suporte social e competição entre pares;
Falta de controle sobre as tarefas e comunicação ineficaz;
Insegurança no emprego e desvalorização profissional;
Desrespeito à saúde mental e uso de diagnósticos como arma de discriminação;
A pesquisa ainda destaca a importância da ergonomia organizacional, da formação de lideranças humanizadas e do fortalecimento da cultura do cuidado como práticas preventivas.
Saúde mental e riscos psicossociais
A pesquisa também identificou os efeitos diretos do assédio na saúde psíquica dos(as) profissionais. Entre os sintomas mais frequentes estão:
Ansiedade, apatia, depressão, insegurança e perda de memória
Dificuldade de concentração, insônia, medo constante e sensação de inutilidade.
Reivindicação por políticas públicas e justiça institucional
Diante dos resultados, o Suprema propõe um conjunto de recomendações urgentes:
Criação de programas permanentes de cuidado em saúde mental;
Formação continuada para gestores e lideranças escolares;
Articulação com órgãos públicos como CERESTEs, Ouvidoria, Ministério Público e CGE;
Produção de campanhas de visibilidade, com apoio de artistas locais e influenciadores conscientes;
Apresentação dos dados à SME e às comissões parlamentares locais.
Coletividade como resposta
Mais do que um relatório técnico, esta análise representa um grito coletivo por respeito, dignidade e transformação. Os dados evidenciam que o assédio nas escolas de Maracanaú não é exceção — é parte de um sistema que se recusa a proteger seus profissionais. E como reforça o documento final: “Instituições que naturalizam assédios, autorizam violências e colaboram para a barbárie. A resposta está na coletividade.” Renê Dinelli, assessor em saúde mental do Suprema.