O Ceará está entre os estados com maior adesão ao Pacto Nacional pela Superação do Analfabetismo e Qualificação da Educação de Jovens e Adultos (Pacto EJA), com 94% dos municípios participando, incluindo Maracanaú, dados coletados até a última semana. Essa iniciativa do Ministério da Educação (MEC) visa ampliar as matrículas de jovens e adultos com baixa escolaridade.
As atividades do Pacto EJA começaram em 6 de junho, com 3.306 municípios já aderindo ao plano. O MEC planeja investir mais de R$ 4 bilhões para criar 3,3 milhões de novas matrículas da EJA nos próximos 4 anos. Serão ofertadas vagas integradas à educação profissional e retomado o Programa Brasil Alfabetizado, com 900 mil vagas para estudantes e 60 mil bolsas para educadores populares.
O projeto do MEC estimula ações intersetoriais para fortalecer a educação de jovens e adultos, abordando os altos índices de analfabetismo e aumentando a escolaridade de pessoas com 15 anos ou mais. As aulas abrangem os Ensinos Fundamental e Médio, e o pacto foi elaborado com a participação de representantes de estados, municípios, movimentos sociais e entidades científicas, sob a coordenação do MEC.
O Ceará possui 14,1% da população de analfabetos, com 15 anos ou mais, equivalente a 987 mil pessoas, conforme o Censo Demográfico de 2022. Para combater esse quadro, o Ceará aderiu à chamada pública do MEC que pretende mobilizar jovens e adultos que não frequentaram a escola ou que abandonaram os estudos. Serão realizados debates presenciais e virtuais, além de eventos e atividades on-line, até o fim da campanha em 6 de setembro.
O cenário em Maracanaú
O cenário em Maracanaú
A Doutora em Educação Clarice Gomes, professora de Maracanaú e Fortaleza e membra da Coordenação Colegiada do Fórum EJA Ceará faz uma análise sobre o cenário da alfabetização em Maracanaú e diz que “entre 2011 e 2021, o Brasil viu uma redução de 27% nas matrículas da EJA, representando 37% para eja fundamental e 9% para a eja em nível médio. Estes dados são de um material lançado em 2022 pelo Instituto Paulo Freire e pela Ação Educativa.
Em Maracanaú, o número de escolas que ofertavam a modalidade EJA caiu de 20 em 2022 para 16 atualmente, incluindo o CEJAM, que possui um modelo diferenciado, ou seja, a educação municipal enfrenta desafios significativos, refletindo uma tendência nacional de queda nas matrículas e investimentos.
De acordo com a doutora, “o Plano Municipal de Educação (2012-2021) visava aumentar a taxa de escolarização para 90%, mas os resultados não foram alcançados”. Por outro lado, a cidade aderiu recentemente ao Pacto EJA, iniciativa do Governo Federal que ela considera interessante, apesar de ter várias ressalvas à modalidade de ensino. “Há a esperança de que essa medida traga mais recursos e melhorias, porém é preciso pensar na perspectiva intersetorial. Qual é a relação da Eja com a saúde, com o meio ambiente, com a cultura? Além de investimentos em infraestrutura, como bibliotecas e laboratórios de informática, para atender melhor a diversidade de alunos. É preciso também termos políticas de estado e não somente de governo. O pacto ainda não é uma política de estado e sim de governo”, aponta.
“Para melhorar a educação e atrair os jovens e adultos que deixaram ou não tiveram acesso aos estudos é preciso um olhar mais humanista e com atrativos porque estamos falando de pessoas que precisam ser estimuladas. Por exemplo, as bibliotecas precisam estar abertas à noite, é uma maneira de ofertar um local favorável à prática do estudo e como uma forma de promover o letramento literário, ação fundamental para enfrentar o desafio do analfabetismo, ensinando o jovem, o adulto e o idoso a ler o mundo antes de ler a palavra, como dizia Paulo Freire, contribuindo para superar as dificuldades do processo de ensino e aprendizagem”, finaliza Clarice.